Protótipo & Biografia - parte I

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Caetano e Chico para a revista Bravo! 

 
"O boteco virtual onde a gente conversa e discute"
Caetano Veloso

Existe em si uma apresentação, uma capa, um layout que depois de apreciado, tanto com bons quanto com equivocados olhos, da a liberdade de se entrar e entender o conteúdo. Existe uma Linha Editorial controversa,  um Editor, um Repórter , um Fotógrafo e um Personagem. Todo o necessário para uma boa matéria, reportagem, entrevista e nesse caso em específico, um artigo! 
É desse formato que acredito que possa nascer um artigo opinativo realmente interessante, pois antes mesmo de falar o que se pensa em um artigo, existe toda uma sorte de recursos necessários para compreender a simples opinião. Protótipo de opinião, Biografia de um pensamento. A simples crítica de um livre pensador não vem a ser um bom artigo. O fato de ser em si, cada pessoa um veículo de comunicação torna o ato comunicativo um processo.
A revista Bravo! desse mês traz em sua matéria de capa, dois dos maiores ícones da MPB/pop: Chico & Caetano. O que intriga é a capacidade quase simbiótica, em que mesmo com trabalhos completamente diferentes (Chico com seu novo livro Leite Derramado e Caetano com seu novo albúm Zii Zie), os dois consigam dialogar. 
De fato vale recorrer a história e lembrar que Caetano e Chico se encontram, resvalam, dão as mãos e cantam canções juntos há mais de quatro décadas. Que há duas décadas, protagonizaram um programa juntos. Que há séculos se correspondem, não há como não ver uma ligação que talvez Veloso traduziria como: "Uma coisa linda, transcendental, quase mística, coisa da Bahia, coisa do Rio!".
É citando a entrevista e os ícones que eu começo a me pautar, pesquisar, entrevistar e fotografar mentalmente a questão: "Por que não?"

Caminhando Contra o Vento!

Era o ano de 1967 e a TV RECORD promovia o II Festival da Música Popular Brasileira. Gil vinha de "Domingo no Parque", Chico na "Roda Viva" e Caetano "Alegria Alegria" e por impressionante que seja, esses são respectivamente o segundo, terceiro e quarto lugar do festival. O primeiro lugar foi de Edu Lobo e seu "Ponteio", dizendo "Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar!", menos lembrado mas não pior ou esquecido, porém no vai de lá do tempo, menos. E dizem à história ser contada pelos vencedores. 
Nessa mesma toada, a quem veja como ganhar ou perder só dependente do ponto de vista do tempo. Pois bem, eis que "em caras de presidentes, em grandes beijos de amor, em dentes, pernas, bandeiras, bombas" e militar ditador, no ano seguinte ao festival, em 68, o secundarista Edson Luís de Lima Souto, de 16 anos foi morto pela polícia em protesto estudantil pela reabertura do Restaurante Popular Calabouço, no Centro do Rio de Janeiro.

Capa do Jornal do Brasil de 29 de março de 1968

A gente quer ter voz ativa e o nosso destino mandar!



Chico Buarque de Holanda é rebento de um dos maiores historiadores do Brasil: Sérgio Buarque de Holanda. Do pai herdou o criticísmo e literatura ímpar que o tornaram compositor de histórias para serem cantadas. De fato, Buarque não canta, mas sim conta, narra e descreve o mundo.  e em periodo tão conturbado como foram os anos 60, Chico, com ou sem censura conseguiu provocar, instigar e criticar, com a leveza de quem não pensou pra falar, apenas disse.
E se "tem dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu" até hoje, é porque a "Revolução de 64", ou verdadeiramente o Golpe Militar de 64 se faz sentir como ferida que não fechou. E há "Folhas" que ainda chamam o periodo pós golpe - que compreende de 1964, passando pelo AI-5 em dezembro de 68, pela morte de Vlado Herzog em 75, pela luta pela abertura dos anos Geisel e Figueiredo, pelas Diretas já! em 84 e finalmente o fim do governo militar em 85 - de "DitaMole"
É duro! Mas a gente vai contra a corrente, até não poder resistir, sem lenço, sem documento a gnete vai... Por que não?!
Continua!
Chico e a camiseta das Direstas já! com o lema: Eu quero votar pra Presidente  

1 tiros:

Thaís Bett disse...

"A gente vai levando, a gente vai levando..."
Gostei muito disso aqui!
Alias, gosto muiiito do Chico. Nada contra Caetano, mas é que Chico.. ahh o Chico! rs
Estou monografando para minha pós sobre isso (não sobre o Chico, sobre o golpe) e meu amigo, que difícil!
Mas eu consigo.
Texto ótimo! Parabéns!

B-joss